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Auditorias | Como proceder durante a pandemia?

A crise causada pela pandemia da COVID-19 alterou o modo de vida em todos aspectos possíveis da humanidade, passando também, fortemente, pelo campo profissional, onde as mudanças têm causado um aceleramento da cultura do home-office e outras medidas antes existentes, mas em estágios anteriores, de forma muitas vezes desordenada, caótica e... bem-sucedida.

Por mais que tenhamos necessidade (e deve ser assim mesmo) de planejamento, controle e gestão de riscos, muitas vezes as coisas acontecem por força das circunstâncias e elementos diretos e indiretos acabam acomodando e gerando cenários que se tornam nosso padrão.

Na primeira onda deste assunto, e falando estritamente no modo profissional, a preocupação das organizações passou pela saúde de seus funcionários, terceirizados, parceiros e clientes para a questão da portabilidade das operações a partir de casa, o que já tem ocorrido há alguns meses na maioria das corporações com relativo sucesso.

Agora, com esta situação ainda em evidência e sem perspectiva imediata de retorno ao modo que tínhamos até o início do ano, com ocupação e operação baseada em locais de trabalho físicos, surge mais um capítulo nesta história, e aqui muito próximo da área de Privacidade de Dados e Segurança da Informação: Como lidar com as auditorias?

Para o nosso segmento, auditorias são uma espécie de combustível que nos move, e não é de estranhar que um time de uma grande empresa ou instituição esteja envolvido em múltiplos eventos desta natureza, atuando tanto como auditado quanto como auditor.

Auditorias internas, externas, de clientes, de certificação... e agora com a perspectiva também de fiscalizações por conta da LGPD são coisas que fazem parte da pauta da maioria dos CISOs ou similares (claro que isso já faz parte de mercados já bastante regulados, como as instituições financeiras, que possuem estas questões e também outras, como inspetorias, por exemplo).

Mas como lidar com isso, visto que o modelo é, predominantemente, focado em visitas e reuniões presenciais, onde são envolvidos profissionais, infra-estrutura e também muito do que chamamos de visão do auditor, onde este, por mais que tenha seu planejamento e seu roteiro a cumprir pode, em determinado momento, promover pequenas mudanças de curso de forma a medir determinados aspectos (não estou falando de pegadinhas, mas do sentimento que, dado o clima, a reação das pessoas e a forma com que tem sido conduzido o processo pode levar a novos diagnósticos, que podem ser positivos ou não para quem está sendo auditado).

Falando de auditorias internas, vejo que é algo, pela sua própria natureza, um tanto simples de resolver, pois envolve público com a mesma cultura organizacional e, desta forma, fica mais fácil migrar para o modelo remoto e também é possível considerar o histórico como forma de suprir a falta de condições para visitar fisicamente os locais.

A tecnologia também pode ajudar, seja na forma de drones (não necessariamente aéreos) para a visita física de locais, como forma de verificação de instalações como Data Centerse outras dependências.

Já nas auditorias externas, muito mais rígidas do ponto de vista de processo aplicado às empresas de forma igualitária, é algo que tem preocupado os gestores de Privacidade de Dados e Segurança da Informação, pois pegando o modelo aplicado atualmente pela ISO 27001:2013, temos um processo orientado a visitas físicas dos auditores, que entrevistam os pontos focais, avaliam os controles aplicados fisicamente em pontos estratégicos, como TI e Segurança Física e também medem a questão de cosncientização das pessoas e comportamento humano.

Nesta situação, vejo que também há a necessidade de evoluirmos para a realidade atual, considerando que a maioria das pessoas já não estará nas dependências das empresas ao ponto que também não poderemos enviar auditores para as residências das pessoas e, domínios como os de treinamento e conscientização deverão passar por novos critérios de avaliação e formas de medição de sua qualidade.

As visitas às instalações físicas também deverão ser cada vez mais restritas e específicas, talvez centralizando, no caso de uma empresa com várias filiais ou mesmo uma multinacional, uma única visita e, a partir deste ponto, obter-se a amostragem necessária e, neste ponto, é algo que realmente deverá ser bastante pensado e debatido, pois é comum diferenças substanciais quando há diferentes locais, como questões regionais (até mesmo nacionais e internacionais), culturais, econômicas, de negócio, etc.

As entrevistas são, no meu modo de entender, o aspecto menos impactado por esta situação, pois no geral as pessoas já estão habituadas às conexões remotas ao invés da tradicional sala de reuniões - mas aqui listo a regra não-escrita da auditorias: O fator emocional, que faz com que pessoas reajam de forma muito atípica neste tipo de situação estressante e de alta pressão, fazendo com que uma área relativamente em conformidade passe por apuros enquanto outras com menos condições tenham, utilizando-se de pessoas com boa oratória e inteligência emocional, performance superior - e isso conta muito num processo de certificação, por exemplo.

Outro ponto, agora envolvendo espeficicamente a questão de Privacidade de Dados. trata da coleta, demonstração e envio (quando aplicável) de evidências de uma auditoria, pois agora, remotamente, não há como apenas demonstrar algo ao auditor em sua mesa de trabalho.

Para isso, é necessário ajustar os termos de NDA (Non-Disclosure Agreement) junto ao departamento jurídico de modo a prever situações onde evidências poderiam, tecnicamente, ser capturadas indevidamente por prints de tela ou qualquer tipo de tráfego não permitido pela organização, bem como estabelecer critérios, regras e ambientes tecnológicos para tal ação.

Por fim, as auditorias são mais um dos elementos que terão de passar por transformações para adaptar-se à realidade que temos hoje, onde deslocamentos, contato físico, aglomerações de pessoas e comportamentos antes tidos como padrão serão cada vez mais repensados.


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